vieiracalado-poesia.blogspot.com
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sábado, 28 de novembro de 2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Sou um tresloucado
Sou um tresloucado à procura de sossego,
um pária errante em cata duma pátria
que me traga no sossego a plenitude,
a harmonia própria duma pátria
longe de vulcões de pântanos e de lama,
comércio de almas e valores corrompidos,
longe da vacuidade da vanglória
e mais longe ainda do atropelo à dignidade,
mesmo dos que não sentem o atropelo
por desgraça de não saber ou não o querer,
tresloucados como eu vivendo a vida,
esta vida que não quero mas não desdenho
que a vida é fardo leve de quem tem
o mal de amar sem perda ou recompensa.
o mal de amar sem perda ou recompensa.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
NAQUELA NOITE
Naquela
noite sonhei que sonhava.
Era
dia.
No
meu sonho estavas tu alegre nem um pássaro
subindo
no meio duma fresta de sol,
em
inverno rigoroso.
Eu
sonhava e dizia-te sonhei contigo,
estavas
tu a sorrir sentada no chão,
enquanto
a chuva caía sobre uma árvore despida de folhas,
meditativa.
Era
uma sensação plena de ternura
pelos
teus grandes olhos azuis alucinados,
ignorante
da vacuidade dum extenso fogo
que
eu já vi nos despenhadeiros
por
onde andam os répteis absurdos,
nas
linhas verticais dum desejo.
O
teu corpo reclinava-se,
voava
em cima dum enorme bloco de gelo
que
transfigurava tudo no cinzento dum pombo,
na
noite plúmbea do mar.
Eras
tu que vigiavas uma fábrica de beijos,
homens
e mulheres de estranhos capitéis
para
se protegerem da geada
ou
talvez da antiga ciência do deslumbramento.
Eu
era apenas uma sombra.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
VERTIGEM
Vertiginosas são estas árvores que eu vi nascer.
Vertiginosas suas folhas desprendidas em cascata,
a história transparente do granizo embranquecendo
o meu cabelo, as minhas múltiplas peregrinações
num cântaro de luz, como pétalas de veludo acariciando
os meus olhos deslumbrados de menino.
Vertiginoso é este caminho de corais e anémonas
que preenche o mar dos meus abismos,
um claustro de iluminuras e ludíbrios de cristal
que descerra clareiras e frágeis seduções
pairando sobre o limbo duma tempestade violenta,
em nuvens de poeira e exercícios de alquimia.
Vertiginosas são as cores, os desígnios das estrelas,
a sua perene vitalidade, em todos os céus do céu,
em todos os lugares onde tem lugar a terra-mundo,
como lâminas de aço cortando os meus devaneios,
a minha absurda ingenuidade, o muro dos murmúrios
que
desce em rampa até ao fundo da minha mágoa.
domingo, 4 de outubro de 2015
POEMA DRAMÁTICO
Fechado durante séculos,
o livro guardava o mistério das altas
torres,
a água subterrânea das fontes.
Um nómada inquieto,
filho das sombras,
indiscreto como uma criança,
o abriu.
Dentro, permanecia, inerte,
absorta no seu segredo, a gravura.
Quando o papel me chegou às mãos,
trazia pintado, a lápis de cor,
esse edifício imponente em seus tons
verde e castanho,
como uma árvore.
Era a imagem comovente de antigos
cadafalsos,
que arrepiava os ossos de perceber a
intensidade
e o drama daquelas vidas,
hoje apenas o verdete nos beirais das
casas,
uma luz oblíqua e um tecto
despovoado
aberto às chuvas e aos pássaros
que sopram nos princípios da
primavera.
Observo este estado de alma,
esta vertigem de ver os artifícios duma
flor confrangedora
apegada à utopia,
numa sensação de frio, de imprecisos
contornos,
da claridade esmorecida.
Regresso ao mundo, fora do castelo
tranquilo.
A angústia mistura-se a um murmúrio,
a uma tranquilidade virtual,
a sedução pelo equilíbrio do sistema.
A gravura voltara para o interior do
livro,
ao seu lugar de repouso,
fechado para outros séculos de
indulgência.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
SEM REGRESSO
No sem regresso das formas,
amarela
lanceolada folha
sobre
a terra.
Como
a luz,
desnuda
o
brilho opaco da nervura
enquanto
a cinza
que
desenha
se deslumbra.
sábado, 12 de setembro de 2015
O LIVRO ANTIGO
Folheemos
este livro antigo,
os
lábios múltiplos da página
que
disse a madrugada,
o
jardim que desenhou
o corpo
diligente dos insectos,
a
fogueira do horizonte
que
amareleceu estas flores breves.
Folheemos
este livro
nas
sombras onde cai uma janela
de
silêncio,
o sol
poderoso
de
olhar as planícies,
os
cristais da terra.
Folheemos
este livro antigo,
o
abismo entreaberto nestas páginas,
a
cerimónia comovida
consumida
por ecos
de
imagens doutros dias
que
dizem a palavra longe
onde
haveremos de habitar.
domingo, 30 de agosto de 2015
COMO AQUELES OLHOS
Como aqueles olhos que disseram a tua eternidade
até ao fim do mundo
que o fim mundo é a tua ideia derradeira
do tempo
e do abalar dos dias
a visão do que foi eternamente passado
longe para sempre
daqueles olhos que te disseram o dia de ontem
em POEMETOS II - recentemente publicado
domingo, 16 de agosto de 2015
PERDEDOR
Tenho sido sempre um perdedor
das coisas simples
no espaço aritmético do coração
aberto ao mar.
O meu sangue é um rio
deslumbrado das escarpas
que me apertam os ossos ébrios
das montanhas
dos altos cumes onde habita a
águia
donde se vê de mais perto as estrelas
trémulas da alegria.
Sou um perdedor das coisas
fáceis, das águas breves
que se amontoam em crepúsculos
do passado
e na sucessão vertiginosa de
restituídas seivas
inscritos na lápide dos
pensamentos nítidos.
Transmito-me pelos limites da
maré e dos céus
que se aprisionam da flauta dos
meus olhos
no violoncelo na harpa
encandeada
dos dias por onde passo e me
consumo.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Eloísa
O meu nome é Eloíza
onde queria eu estar senão em Ibiza
no Mediterrâneo
se trago esta rosa em flor
no sub-cutâneo!
Algures no Mediterrâneo, 1972
terça-feira, 14 de julho de 2015
Às mãos que passam
Do
teu corpo engendrarás um edifício
de
palavras
a
palavra que quiseres ser um fruto fraternal.
O
ministério da saliva fará o que fazem as mãos
ao
oferecer uma flor
a
quem passa
para
que a palavra seja o fermento
de
outras flores e outros frutos
para
oferecer
a
outras mãos que passam.
quarta-feira, 1 de julho de 2015
SEM TÍTULO
Pegar
num pedaço de azul-cinzento do mar
é
pouco
mesmo
que se lhe ajuste um pouco de nada.
O
melhor é fechar as luzes amarelas
da
noite
e
entrar pelo negro absoluto
para
poder sonhar.
domingo, 21 de junho de 2015
A FLOR
A flor sobre o plano branco,
a palavra no meio doutras palavras brancas
sem cor e sem chama
ou o fruto maduro entre a folhagem
verde
novo de sabores ignorados
e aquelas mãos
o teu corpo de mulher entre as mulheres
o pano brando onde aprendo
a cor melhor das flores
e sabores.
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