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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sou um tresloucado


Sou um tresloucado à procura de sossego,
um pária errante em cata duma pátria
que me traga no sossego a plenitude,
a harmonia própria duma pátria

longe de vulcões de pântanos e de lama,
comércio de almas e valores corrompidos,
longe da vacuidade da vanglória
e mais longe ainda do atropelo à dignidade,

mesmo dos que não sentem o atropelo
por desgraça de não saber ou não o querer,
tresloucados como eu vivendo a vida,

esta vida que não quero mas não desdenho
que a vida é fardo leve de quem tem
o mal de amar sem perda ou recompensa.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

NAQUELA NOITE


 
Naquela noite sonhei que sonhava.

Era dia.

No meu sonho estavas tu alegre nem um pássaro
subindo no meio duma fresta de sol,
em inverno rigoroso.

Eu sonhava e dizia-te sonhei contigo,
estavas tu a sorrir sentada no chão,
enquanto a chuva caía sobre uma árvore despida de folhas,
meditativa.

Era uma sensação plena de ternura
pelos teus grandes olhos azuis alucinados,
ignorante da vacuidade dum extenso fogo
que eu já vi nos despenhadeiros
por onde andam os répteis absurdos,
nas linhas verticais dum desejo.

O teu corpo reclinava-se,
voava em cima dum enorme bloco de gelo
que transfigurava tudo no cinzento dum pombo, 
na noite plúmbea do mar.

Eras tu que vigiavas uma fábrica de beijos,
homens e mulheres de estranhos capitéis
para se protegerem da geada
ou talvez da antiga ciência do deslumbramento.

Eu era apenas uma sombra.