vieiracalado-poesia.blogspot.com

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domingo, 22 de janeiro de 2017

O CORAÇÃO CONHECE O SEGREDO


O coração conhece o segredo dos pássaros,
a ânsia de horizontes para além do horizonte.

O segredo dos pássaros é uma centelha
de luz rebuscando a simplicidade duma vida

imagens móveis que alargam o nosso chão,
apenas em memórias difusas de exiguidade
e fantasmas de veludo passando mãos inertes
sobre o nosso rosto. 

Ou labaredas azuis duma tarde quente
e o fio dum arco-íris
em suas cores de transparência e frio.

O coração conhece o segredo dos pássaros
e o seu degredo.

E eu apenas recomeço os trabalhos 
da simplicidade da minha vida
e reconheço a sua exiguidade
guiada por horizontes de bruma.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Afonso Henriques, eu


Afonso Henriques eu, de espada de madeira
eu
de espada em punho a vida inteira.

Criei a eternidade do meu mundo
no universo
abri impérios e epopeias desde o berço
arrisquei mitos e quimeras para vencer
corri santos e deuses e sinais
e onde havia perigos a temer
foi onde aventurei e cresci mais. 

Afonso Henriques, eu, a vida inteira 
eu
empunhando uma espada de madeira!

Veja o vídeo AQUI  c/ música de Mozart

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

TU

Negros  são  os teus cabelos loiros
amarelos também teus olhos cinza,
de negro tingirei minha alma azul.

E se gosto tanto dos teus olhos
o verde intenso de teus seios
o rosa velho dos teus lábios
e me fica tão bem a alma azul

é porque demais gosto
dos tons variados do arco-íris.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Os Trabalhos do Tempo

(poemeto)

O tempo mastiga-nos os ossos
e depois a respiração.

Atira-nos à cara o medo dos poços
e desenvolve a equação
da ideia circular

do pó.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

BELO


Belo
é caminhar por entre o verde,
saber que se ganha e que se perde
e ficar-se a sorrir, sempre.

Belo
é ver cair à volta o mundo,
ouvir-se o lamento do moribundo
e ficar-se a rir eternamente.

Belo
é não pensar, não ler, fantasiar
e nas grandes noites
apenas sonhar, sonhar.

Belo
é o grande mar, o céu azul
e o doido que ri,
sem saber o que quer ou o que não quer.

Mas o mais belo de tudo,
é a mulher.


Todo o belo que existe, 
cabe em si.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

COMPACTO DE NATAL - 4 poemas

NATAL I

Uma ideia persiste no coração do mundo:
a imagem pura a água limpa duma fonte
uma palavra chã em seu natural anseio

Por ela meditaremos em antiquíssimos relatos
a viuvez dum musgo na frágua da montanha
ou o desterro para uma flor esfarrapada
tolhida em  absurdos espectáculos de agonia

E façamos do murmúrio um chão sadio
que floresça a urze do chão remoto
o ofício da luz abrindo devagar a terra
para os frutos indomáveis da alegria.

Os nossos dias também têm um sentido lato
superior às minguas às figuras de excesso
mais profundo que o mecanismo duma roda.

Por isso celebremos hoje a ideia de Natal
para que seja um exercício repetido de louvor 
à grandeza anónima irrepetível duma vida.


NATAL II

A ideia de Natal é uma ideia em construção
uma casa comum de barro generoso
feito do sangue e da probabilidade duma cidade
cheia de luz, emergindo de obscuro impulso, 
um promontório temível que despedaça as águas 
impelidas por vento que vem do chão.

Evocar o Natal é uma ideia de harmonia
entre os naturais irmãos da terra, 
o decurso duma semente que floresce
ao calor dum gesto sempre inacabado.   

Façamo-lo hoje ao cair da noite
para celebrar a vida, numa ideia de paz
para que o barro floresça em paz até ao fim.


Natal III

Naquela noite fazia frio fazia pena 
ver almas despedaçadas deitadas corpos entrouxados 
dispersos nas calçadas luzidias do passeio das ruas.

Caía uma névoa fina que simulava chuva punhais 
de raiva e resignação ou antes uma levada de mágoa 
de murmúrios sem data sem fumo sem restos de cio 
perdidos num mar de pedras nas calçadas da rua. 

Era uma noite de claustros tambores rufando clamando 
os clamores da vida a náusea descrente na boca sofrida 
o granito fundido já duro das lutas perdidas 
pisado nos ossos nos ombros nos olhos que olham 
as coisas de fora nas coisas de dentro 
e as noites nos dias e os búzios na praia sem vento 
soprando as pedras do passeio da rua.

Doía a quem doía não fora a noite uma noite 
de aprazimento em todas as aldeias da cidade 
tempo de alegrias acepipes farturas alvarinho 
em casas abastadas sobranceiras aos passeios da rua -
o mais vago grave desígnio dum oráculo de plenitude 
na inocência das crianças nas crenças na sentença 
dos mecanismos que levam ao enternecimento 
por ver a chuva a cair sobre corpos alheios 
prostrados enrodilhados no manto do passeio das ruas.


NATAL IV

Vem das profundezas do fim das trevas
um caminho mítico para os exercícios da alegria
ali tão perto no barro ainda mole dos antigos.

Assim o pressentimos em fogos de encantamento
na enorme plenitude do orvalho das manhãs.

Talvez nos enredemos em ludíbrios ágeis
pela cerimónia de louvar a imagem virtual dum deus
no seu nicho distante negligenciando as vozes da planície
mas vale a pena tentarmos nós próprios a utopia
porque os deuses estão longe delidos noutros dilemas
noutras abstrações inatingíveis
porventura ainda mais utópicas que as nossas.

Diremos Natal como quem diz um bálsamo
ou um violoncelo tangendo um prelúdio chão
testemunho duma fogueira na água
e no pó do nosso destino também um murmúrio incerto
alheio à vontade transparente das estrelas.

* Destes poemas foram elaborados cinepoemas
  que podem ser vistos, seguidos, AQUI

sábado, 17 de dezembro de 2016

NATAL (4)













A ideia de Natal é uma ideia em construção,
uma casa comum de barro generoso
feito do sangue e da probabilidade duma cidade
cheia de luz, emergindo de obscuro impulso -
um promontório temível que despedaça as águas
impelidas por vento que vem do chão.


Evocar o Natal é uma ideia de harmonia
entre os naturais irmãos da terra,
o decurso duma semente que floresce
ao calor dum gesto sempre inacabado.  


Façamo-lo então, ao cair da noite
para celebrar a vida, numa ideia de paz
para que o barro floresça em paz, até ao fim.

Deste poema, tal como os outros três, 
respeitantes à Quadra do Natal, pode ser visto
                                AQUI


domingo, 11 de dezembro de 2016

NATAL DOS SEM-ABRIGO
















Naquela noite fazia frio fazia pena
ver almas despedaçadas deitadas corpos entrouxados
dispersos nas calçadas luzidias do passeio das ruas.

Caía uma névoa fina que simulava chuva punhais
de raiva e resignação ou antes uma levada de mágoa
de murmúrios sem data sem fumo sem restos de cio
perdidos num mar de pedras nas calçadas da rua.

Era uma noite de claustros tambores rufando clamando
os clamores da vida a náusea descrente na boca sofrida
o granito fundido já duro das lutas perdidas
pisado nos ossos nos ombros nos olhos que olham
as coisas de fora nas coisas de dentro
e as noites nos dias e os búzios na praia sem vento
soprando as pedras do passeio da rua.

Doía a quem doía não fora a noite uma noite
de aprazimento em todas as aldeias da cidade
tempo de alegrias acepipes farturas alvarinho
em casas abastadas sobranceiras aos passeios da rua -
o mais vago grave desígnio dum oráculo de plenitude
na inocência das crianças nas crenças na sentença
dos mecanismos que levam ao enternecimento
por ver a chuva a cair sobre corpos alheios
prostrados enrodilhados no manto do passeio das ruas.

Agora já pode ver o vídeo respectivo  AQUI


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

POEMA DE NATAL (2)


Uma ideia persiste no coração do mundo:
a imagem pura a água limpa duma fonte
uma palavra chã em seu natural anseio.

Por ela meditaremos em antiquíssimos relatos
a viuvez dum musgo na frágua da montanha
ou o desterro para uma flor esfarrapada
tolhida em absurdos espectáculos de agonia.
  
E façamos do murmúrio um chão sadio
que floresça a urze do chão remoto
o ofício da luz abrindo devagar a terra
para os frutos indomáveis da alegria.

Os nossos dias também têm um sentido lato
superior às mínguas às figuras de excesso
mais profundo que o mecanismo duma roda.

Por isso celebremos a ideia de Natal
para que seja um exercício repetido de louvor 
à grandeza anónima irrepetível duma vida.

O vídeo respectivo   AQUI

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

FLORES DE OUTONO


Agora vou reclinando o corpo
entre a terra e as estrelas.

O espaço é breve
para a brisa do mar
que ainda soa.

E no entanto,
adormeço
no meu sonho,
sereno de harmonias
                                
incendiando o fino pó
da terra
com estas flores violetas,


exíguas, violentas, do outono.


Agora pode ver o respectivo videopema clicando          
 aqui

sábado, 19 de novembro de 2016

MEMÓRIA DO TEU CORPO

A memória do teu corpo é a paisagem dum tumulto
um cântico absorto antes de arrebatadas chuvas.

Trazia o vestígio incandescente dos mares de levante
a ardência duma praia restituída de lembranças.

Era uma semente a colorir os teus quadris de incenso
uma celebração ofegante sobre o umbral dum leito.

Relembro-o pela terra, os frutos, as formas macias
do respirar do vento como em teus olhos de alecrim.

E nunca hei-de renunciar ao seu apelo mágico, 
para não desmerecer, num sonho, o teu pretérito.

sábado, 12 de novembro de 2016

ERA NOVEMBRO


Era Novembro e chovia na cidade.

Pairava um halo sobre as casas
um fastio dulcíssimo nos corpos.

Soavam fogos de harmonias
que falavam de outras eras
doutros sonhos, doutras águas

palavras que traziam novelos de palavras 
murmúrios, comércio de pequenas alegrias
que acendiam memórias doutros tempos

e uma flauta que ardia nos teus olhos
a melancolia esdrúxula de meus dias.

AGORA PODE VER COMO FICOU O RESPECTIVO VÍDEO  AQUI

domingo, 6 de novembro de 2016

OS TEUS OLHOS


    Os teus olhos perpetuavam a lembrança dos grandes rios
perpassando na bruma antiquíssima da montanha
e tinham o silêncio trémulo transparente das estrelas
que se extinguem ao clarim da aurora

Os teus olhos tinham a serenidade dos grandes vales
iluminando a cinza prateada das escarpas
e a cor serena tranquila das memórias
que renascem ao clarim da aurora

Os teus olhos tinham o sussurro rumorejante das ervas
onde crescem os ventos ágeis da planície,
a luz milenar da manhã primeira
que me acordou ao clarim da aurora.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

SONETO MODERNO

Sob a influência de variadas energias e vapores,
a cobra enrosca-se na árvore do fogo. 
É um exercício adoçado pela música das nuvens 
grandes espasmos de alegria sobre a terra.

Por ali passa a ebulição dos fluidos
actor de mil anos de efervescência 
bailarino das areias consumado mestre
das intuições aprendidas desde a fonte. 

Vão sobrar as cinzas e as memórias
duma constelação de viagens ao sol
também o frio imparável dum estio vindouro.

Mas esse é o destino das cores que empalidecem
quando nasce o dia e vem o vento violento
a varrer o chão, a habitação do barro e das pedras.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AS ESTRELAS

                    

                   A rose
                   is a rose
                   Gretrude Stein



Rosas são rosas, no dizer britânico.

Ela disse rosas. Eu digo estrelas.

E céus e átomos e neutrinos
e o protoplasma que deu cor ao perfume das rosas
e ao ser pensante que pensou sobre o próprio pensamento
e ao feixe hertziano que há-de pairar
sobre todas as cabeças de todos os seres pensantes,
em todos os céus e todos os universos.

Digo estrelas porque as estrelas também florescem
e morrem
como as rosas se acendem numa fragrância de cores
e fenecem
perdurando na memória do ser-pensante,
ele próprio pó das estrelas, átomos e neutrinos
como um deus eterno e distraído
na solidão para sempre eterna e distraída.

domingo, 9 de outubro de 2016

O MÁRMORE


O mármore, 
o escopro modelar
acariciando as formas ideadas,
a maternidade feita vida 
numa pedra.

Sopro de helénicas 
indústrias da perfeição 
de olhar uma deusa nua
banhando-se 
no Éden deste mundo.

Oh, serena descrição do amor!

Oh. grito erguendo a alma
para repensar a utopia
na pureza branca
duma pedra!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O REGRESSO


A passagem das horas
o perpassar dos dias
o lento fervilhar do tempo em seus artifícios
de claridade e sombras

trazem-nos a este lugar preciso
de quietude
em ondulações de silêncio e apaziguamento.

É aqui
onde deveremos aprender
os festejos da luz
a sombra do pecado original
dos fascínios
pelo regresso urgente

a nossa casa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

JUNTO AO MAR


Junto ao mar, nesta baía suave de azul cobalto,
deixo-me envolver nos confins do pensamento,
o recorte do céu, a expressão mais nua do chão

e contemplo a narrativa das areias desta praia,
a voz antiga que desfez a pedra dos montes
no tumulto das grandes impiedosas chuvas.

O meu arrebatamento é a história que leio
nos veios engendrados pelo refluxo da maré,
as algas deixadas junto ao limite das águas

a própria índole maiúscula dos grãos de areia
que jazem ao sabor da vastidão dos abismos
traçados nos penhasco descidos da montanha.



sábado, 20 de agosto de 2016

OS CAMINHOS DA PLENITUDE


Para trilhar os caminhos que levam à plenitude
escolhem-se as veredas mais ímpias, sem flores
ou flores gastas pelo faro dos pássaros

porque a pura ciência dos rios se constrói
por entre as pedras escorregadias, lisas
das margens, não pela geografia das cores
o brilho intransigente das primaveras.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

LAGOS ONTEM (continuação)

Outro vídeo do DVD Lagos Ontem, 
referente a uma zona emblemática da cidade velha.
Foi apresentado e projectado 
na Feira do Livro de Autores de Lagos, 
(no Armazém Regimental).

clicar youtube

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

LAGOS ONTEM (CD)

Ontem, dia 4, apresentei o CD, de nome Lagos Ontem.
O evento teve lugar na feira/mostra de Autores de Lagos, 
no Armazém Regimental, desta cidade.
Trata-se dum conjunto de vídeopoemas (agora posto a circular), concebido a partir do livro "Lagos Ontem
e que mostram como era a cidade e sua vida, 
em meados do século XX *

Eis um desses vídeopomas:
Clicar youtube para écran completo
***
* 2 ª Edição da Câmara Municipal de Lagos


quinta-feira, 16 de junho de 2016

A CASA ANTIGA



Estas paredes preservam o modelo antigo
das casas
o método tradicional do corpo instituído
por analogia às árvores                                                                                                     

um envelope para guardar a seiva
a estrutura íntima das flores
em sua esfinge impenetrável.

Têm as raízes na terra
como as memórias dum rio,
uma transparência donde se vê o fundo
a sombra célere enigmática das margens

Mantêm a dignidade vertical dum lírio
como um poço de vertigens, uma faísca
que perdura

e a mesma janela antiga descerrada,
uma onda transviada em mera dispersão da luz,
como o fazem os fogos da paixão
que se derramam pelas bermas dos caminhos.