Fechado durante séculos,
o livro guardava o mistério
das altas torres,
a água subterrânea das
fontes.
Um nómada inquieto,
filho das sombras,
indiscreto como uma criança,
o abriu.
Dentro, permanecia, inerte,
absorta no seu segredo, a
gravura.
Quando o papel me chegou às
mãos,
trazia pintado, a lápis de
cor,
esse edifício imponente em
seus tons verde
e castanho,
como uma árvore.
Era a imagem comovente de antigos cadafalsos,
que arrepiava os ossos de
perceber a intensidade
e o drama daquelas vidas,
hoje apenas o verdete nos
beirais das casas,
uma luz oblíqua e um tecto despovoado
aberto
às chuvas e aos pássaros
que sopram nos princípios da primavera.
Observo este
estado de alma,
esta vertigem de ver os
artifícios duma flor confrangedora
apegada à utopia,
numa sensação de frio, de imprecisos
contornos,
da claridade esmorecida.
Regresso ao mundo, fora do castelo tranquilo.
A angústia mistura-se a um
murmúrio,
a uma tranquilidade virtual,
a sedução pelo equilíbrio do
sistema.
A gravura voltara para o
interior do livro,
ao seu lugar de repouso,
fechado para outros séculos de indulgência.