Junto ao mar, nesta baía suave de azul cobalto,
deixo-me envolver nos confins do pensamento,
o recorte do céu, a expressão mais nua do chão
e contemplo a narrativa das areias desta praia,
a voz antiga que desfez a pedra dos montes
no tumulto das grandes impiedosas chuvas.
O meu arrebatamento é a história que leio
nos veios engendrados pelo refluxo da maré,
as algas deixadas junto ao limite das águas
a própria índole maiúscula dos grãos de areia
que jazem ao sabor da vastidão dos abismos
traçados nos penhasco descidos da montanha.
Ela ensina-me a sedução pela espuma rigorosa
das vagas vindas de longe, trazidas no vento,
as correntes telúricas das montanhas do mar
e mostra-me o decurso inteiro e obstinado
que vejo nas conchas despojadas de moluscos,
nas algas que sucumbiram à força do tempo.
Aqui me atenho e entendo este abraço fraternal
das águas ajuntado os restos terminais da terra
antes do grande dilúvio da paz do sol poente
e ergo a minha voz e canto os espaços libertos
na voz multifacetada das águas do grande mar,
o azul pálido da vastidão pluricolor dos céus.
em MARENOSTRUM, a publicar em Maio, na "8ª Mostra de Livros de Autores de Lagos"