vieiracalado-poesia.blogspot.com

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

AS COISAS


Olho demoradamente as coisas
que me rodeiam.

Elas aí estão, paradas, em seu esplendor
de existir
no seu tempo de lugar absoluto.

Mas apenas consomem o tempo,
o meu questionar
no seu esplendor parado,
como um poema escrito
e nunca verdadeiramente entendido.

em As Noite e os Dias, ed. Litoral. 2013

DESEJO UM NOVO ANO PRÓSPERO E FELIZ,
A TODOS OS MEUS VISITANTES!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

NATAL DOS SEM-ABRIGO


Naquela noite fazia frio fazia pena
ver almas despedaçadas deitadas corpos entrouxados
dispersos nas calçadas luzidias do passeio das ruas.

Caía uma névoa fina que simulava chuva punhais
de raiva e resignação ou antes uma levada de mágoa
de murmúrios sem data sem fumo sem restos de cio
perdidos num mar de pedras nas calçadas da rua.

Era uma noite de claustros tambores rufando clamando
os clamores da vida a náusea descrente na boca sofrida
o granito fundido já duro das lutas perdidas
pisado nos ossos nos ombros nos olhos que olham
as coisas de fora nas coisas de dentro
e as noites nos dias e os búzios na praia sem vento
soprando as pedras do passeio da rua.

Doía a quem doía não fora a noite uma noite
de aprazimento em todas as aldeias da cidade
tempo de alegrias acepipes farturas alvarinho
em casas abastadas sobranceiras aos passeios da rua ‒
o mais vago grave desígnio dum oráculo de plenitude
na inocência das crianças nas crenças na sentença
dos mecanismos que levam ao enternecimento
por ver a chuva a cair sobre corpos alheios
prostrados enrodilhados no manto do passeio das ruas.

domingo, 14 de dezembro de 2014

POEMA DE NATAL (novo)


Vem das profundezas do fim das trevas
um caminho mítico para os exercícios da alegria
ali tão perto no barro ainda mole dos antigos.

Assim o pressentimos em fogos de encantamento
na enorme plenitude do orvalho das manhãs

Talvez nos enredemos em ludíbrios ágeis
pela cerimónia de louvar a imagem virtual dum deus
no seu nicho distante negligenciando as vozes da planície
mas vale a pena tentarmos nós próprios a utopia
porque os deuses estão longe delidos noutros dilemas
noutras abstrações inatingíveis
porventura ainda mais utópicas que as nossas.

Diremos Natal como quem diz um bálsamo
ou um violoncelo tangendo um prelúdio chão
testemunho duma fogueira na água
e no pó do nosso destino também um murmúrio incerto
alheio à vontade transparente das estrelas.

Veja também o vídeo aqui

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

POEMAS DE NATAL (2)




A ideia de Natal é uma ideia em construção
uma casa comum de barro generoso
feito do sangue e da probabilidade duma cidade
cheia de luz, emergindo do obscuro impulso
dum promontório temível que despedaça as águas
impelidas por vento que vem do chão.

Evocar o Natal é uma ideia de harmonia
entre os naturais irmãos da terra,
o decurso duma semente que floresce
ao calor dum gesto sempre inacabado.  

Façamo-lo hoje ao cair da noite
para celebrar a vida, numa ideia de paz
para que o barro floresça em paz até ao fim.

...........Pode ver o cinepoema correspondente a este poema aqui