vieiracalado-poesia.blogspot.com

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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AS ESTRELAS

                    

                   A rose
                   is a rose
                   Gretrude Stein



Rosas são rosas, no dizer britânico.

Ela disse rosas. Eu digo estrelas.

E céus e átomos e neutrinos
e o protoplasma que deu cor ao perfume das rosas
e ao ser pensante que pensou sobre o próprio pensamento
e ao feixe hertziano que há-de pairar
sobre todas as cabeças de todos os seres pensantes,
em todos os céus e todos os universos.

Digo estrelas porque as estrelas também florescem
e morrem
como as rosas se acendem numa fragrância de cores
e fenecem
perdurando na memória do ser-pensante,
ele próprio pó das estrelas, átomos e neutrinos
como um deus eterno e distraído
na solidão para sempre eterna e distraída.

domingo, 9 de outubro de 2016

O MÁRMORE


O mármore, 
o escopro modelar
acariciando as formas ideadas,
a maternidade feita vida 
numa pedra.

Sopro de helénicas 
indústrias da perfeição 
de olhar uma deusa nua
banhando-se 
no Éden deste mundo.

Oh, serena descrição do amor!

Oh. grito erguendo a alma
para repensar a utopia
na pureza branca
duma pedra!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O REGRESSO


A passagem das horas
o perpassar dos dias
o lento fervilhar do tempo em seus artifícios
de claridade e sombras

trazem-nos a este lugar preciso
de quietude
em ondulações de silêncio e apaziguamento.

É aqui
onde deveremos aprender
os festejos da luz
a sombra do pecado original
dos fascínios
pelo regresso urgente

a nossa casa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

JUNTO AO MAR


Junto ao mar, nesta baía suave de azul cobalto,
deixo-me envolver nos confins do pensamento,
o recorte do céu, a expressão mais nua do chão

e contemplo a narrativa das areias desta praia,
a voz antiga que desfez a pedra dos montes
no tumulto das grandes impiedosas chuvas.

O meu arrebatamento é a história que leio
nos veios engendrados pelo refluxo da maré,
as algas deixadas junto ao limite das águas

a própria índole maiúscula dos grãos de areia
que jazem ao sabor da vastidão dos abismos
traçados nos penhasco descidos da montanha.



sábado, 20 de agosto de 2016

OS CAMINHOS DA PLENITUDE


Para trilhar os caminhos que levam à plenitude
escolhem-se as veredas mais ímpias, sem flores
ou flores gastas pelo faro dos pássaros

porque a pura ciência dos rios se constrói
por entre as pedras escorregadias, lisas
das margens, não pela geografia das cores
o brilho intransigente das primaveras.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

LAGOS ONTEM (continuação)

Outro vídeo do DVD Lagos Ontem, 
referente a uma zona emblemática da cidade velha.
Foi apresentado e projectado 
na Feira do Livro de Autores de Lagos, 
(no Armazém Regimental).

clicar youtube

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

LAGOS ONTEM (CD)

Ontem, dia 4, apresentei o CD, de nome Lagos Ontem.
O evento teve lugar na feira/mostra de Autores de Lagos, 
no Armazém Regimental, desta cidade.
Trata-se dum conjunto de vídeopoemas (agora posto a circular), concebido a partir do livro "Lagos Ontem
e que mostram como era a cidade e sua vida, 
em meados do século XX *

Eis um desses vídeopomas:
Clicar youtube para écran completo
***
* 2 ª Edição da Câmara Municipal de Lagos


quinta-feira, 16 de junho de 2016

A CASA ANTIGA



Estas paredes preservam o modelo antigo
das casas
o método tradicional do corpo instituído
por analogia às árvores                                                                                                     

um envelope para guardar a seiva
a estrutura íntima das flores
em sua esfinge impenetrável.

Têm as raízes na terra
como as memórias dum rio,
uma transparência donde se vê o fundo
a sombra célere enigmática das margens

Mantêm a dignidade vertical dum lírio
como um poço de vertigens, uma faísca
que perdura

e a mesma janela antiga descerrada,
uma onda transviada em mera dispersão da luz,
como o fazem os fogos da paixão
que se derramam pelas bermas dos caminhos.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

PEDRA DA PROMISSÃO


Novo e novo e sempre igual
o dia de amanhã
tece fantasmas no écran.

Pode chover dias e dias a fio
como as folhas no Outono,
pode sentir-se o frio das palavras sólidas
como a única certeza do condenado,
podem mesmo aparecer sinais no céu
a dizer que não há nada,
que o poeta
atento e absorvido
sonha sonhos impossíveis de sonhar

e espera pelo dia prometido.

sábado, 28 de maio de 2016

POEMA DE AMOR


Eras bela pela tarde à luz mutante
no teu rosto de menina,
já mulher
e anunciavas flores de jasmim
num lascivo desejo de romãs
que acendias devagar em minhas mãos.

Eras tu que trazias o enigma resolvido
da plenitude na planície, na longa espera
duma pétala oscilando ao sol,
o pólen dum lírio madrugador a clarear
o horizonte, o meu sangue ansioso
por assistir à cerimónia repetida
das espigas e do pão.

Trazias pela tarde o meu sustento
até ao fim da ausência,
o arco-íris
como a crina dum cavalo ao vento
emudecendo a cinza de meus olhos.

Eras tu a voz que se ouvia na vertigem
de olhar uma aldeia acordada por tambores,
nas origens, no orvalho, no barro
dum prelúdio que já tive, de alegrias.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O coração conhece o segredo


O coração conhece o segredo dos pássaros,
a ânsia de horizontes para além do horizonte.

O segredo dos pássaros é uma centelha
de luz rebuscando a simplicidade duma vida

mas em mim apenas memórias difusas de exiguidade
e fantasmas de veludo passeando mãos inertes
sobre o meu rosto

ou labaredas azuis duma tarde quente
e o fio dum arco-íris
em suas cores de transparência e frio.

O coração conhece o segredo dos pássaros
e o seu degredo.

E eu apenas recomeço sempre os trabalhos
da simplicidade da minha vida
e reconheço a sua exiguidade

guiada por horizontes de bruma.

em "Os Lábios Múltiplos da Página", a ser apresentado em Agosto.