Setembro é o
mês dos grandes fogos.
A devastação
do chão
devagar bebendo a seiva imperturbável
onde a cinza
refeita dos séculos reacende
o resplendor
das manhãs, nas árvores macilentas,
com o seu
bafo de menina que vai morrer.
Por ele se
redime
o cardume das aves migratórias
rumo ao sul
dos sóis inumeráveis
perdido que
foi do estio, o agosto ardente,
a terra
descalça, seca,
nas ambições do trigo.
Mês onde o
leão a virgem devora lentamente
com o seu
rosto de ervas
amarelas da
tarde macerada.
Por ele se esvai
o brilho do riacho
às portas do
mar correndo,
de tão longo
augúrio o amor desfeito.
Mês onda a
pedra avulta perene
o esplendor dum réptil
e o réptil
reganha a cor a condição
da pedra.
Setembro é o
grande mês dos fogos
primordiais,
tardes
que se alongam em vozes frias
com a
exactidão precisa dum alçapão
e um tumulto
de folhas secas roça
o dorso
incerto do valado
grisalho, de
aranhas agonizantes voando
em teias de
pó no ar incerto
ou ao mar do
vento desabrido e sonolento.
Por aqui
passam os últimos enleios
do despertar
a frágil
representação da cena das espigas
brisas
cravadas de papoilas,
sinfonias de luzes,
enquanto os
grandes espaços se enchem
do último
voltear dum insecto doido.
na secura,
na vertigem inquieta
do fim do dia
inquieto
pelas chuvas anunciadas.
Setembro é
fogo do fogo.
O princípio da cinza,
o princípio do princípio.