Celebrar
a terra que acende os horizontes, a persistente luz
das
estrelas, e me ensina a alegria chã das aves diligentes,
a
metamorfose dos insectos sobrevoando os vales do tempo.
Como
não hei de venerar a ostentação dos seus véus brancos
quando
caminham longe, permitido o logro, os festejos do sol,
alheios
à nudez dos ares, a mão que ateou a viuvez do tempo?
Celebrar
os jogos lascivos do vento abrasando vultos voláteis
de
árvores despidas, esculpidas na nitidez das tardes paradas,
ignorantes
de que nas cinzas é possível ler o poder das cinzas,
a
comovente singularidade de serenos crepúsculos, quando
já
outros partiram rumo ao apaziguamento, num barco de luz
livre,
escrevendo o seu nome numa flor de lótus, à beira Nilo.
E por
fim celebrar as vestes heróicas, a cada manhã revelada,
do
modesto ofício duma flor enfeitiçada sobre o rio que passa,
dum
pássaro madrugador iludindo o enigma plural da noite.
Festejar
a sua inocência, o incêndio imperfeito das sombras
que
rasam os seus destinos, numa desordem programada,
para
que prossiga o festim vagaroso, prosaico, das estrelas.
em "TERRACHÃ", ed. AJEA, 2004