Nestes dias de
transparências violentadas
sonho a ardência
duma árvore estóica
testemunhando os
ludíbrios da paisagem,
um rio que
simplesmente prossegue
e se disfarça em
devaneios de águas claras
no rigor dos
invernos que conhece.
Subo do meu frio
por escadas verticais,
um perfil
amargurado de vozes interiores
que me trazem às
franjas da realidade,
os alicerces da
essência dos objectos,
onde apenas
vislumbro os excessos da luz
as cinzas ou o fogo
de vulcões extintos.
Contemplo, nas
fronteiras do alvoroço,
os murmúrios de
antigos violoncelos
sussurrando o
desígnio das águas leves
fustigando o
granito das profundas fendas
da
terra, num exercício demolidor.
Mas
nada sei dos exercícios de barro,
apenas
reconheço o ar circundante
que
prossegue dando frescura às vigílias,
na
lassitude serena de entender a bruma
a
descer sobre a superfície das origens.
Por
isso apenas me atenho às evidências
do
pólen esvoaçando ao sabor do vento,
a
pura sedução das vertentes da luz
o
mecanismo rigoroso dum grão de trigo.
in "Transparências", 1999