VII
“A claridade é uma justa repartição de
sombras e de luz.”
Goethe
Descrever
os seus domínios,
a
respiração bárbara da nossa ansiedade,
a
sua dimensão alada
‒ o
domínio improvável da dimensão
que
paira sobre as elementares dimensões do nosso corpo,
como
aquelas manhãs que se fecham
num
quarto de janelas fechadas ‒,
é
árdua tentativa desvendar
a
textura das areias duma rosa no deserto,
os domínios da sua solidão petrificada,
o
azul dos céus, o além inquieto, o lilás e o rosa
que
perfuram o cinzento dos dias
com
um dilúvio de sol para a nossa sede,
mas
mais
que tudo
o que nunca nos atrevemos a dizer
do
pacto imperturbável das águas
com
os restos da poeira,
repartindo
as sombras e a luz,
as
divagações dos faunos e do vento batendo nas árvores
levando
para longe as folhas, dispersando-as
com
paixão pelo desmembramento,
cumprindo
a subtil função do sistema
transparente,
que
vemos muito para além do azul dos céus.
pp 21
Extracto de Nu Tempo, um dos meus próximos livros