Imagino uma folha de papel branco,
uma ideia de horizonte
para as fronteiras da luz,
a margem vigilante
da utopia.
A ideia assume-se
no espaço da página,
em promessa indizível
incendeia-se.
A palavra floresce
a metáfora nua
dentro dum casulo de memórias
de pele verdadeira.
É infinita
no círculo das águas,
na precária transição
para o real,
o quotidiano inconsciente.
Tanto recobre os interstícios
da página
como se sobrepõe ao vazio do espaço,
na cor neutra do vidro.
Uma página em branco
É
o lugar do amor
o lugar
duma impressãozinha vegetal
na parte de fora da alma,
junto aos muros do sangue
bruma branca de reminiscências
as mais interiores encobertas
as mais pardas fundas
Sobre a página se desenha a corda
entrelaçada,
linhas curvas vergam para além
dos limites do chão,
transcendem a própria ideia de espaço,
voam até ao princípio
da luz
que ainda brilha nas praias
da inocência.
A ideia pressupõe um inventário
de cores virtuais,
arestas que se dissolvem
nos poros da matéria
onde se inscreve o espaço
do contexto.
É enorme o seu campo,
o verdete azul
das vozes pronunciadas
que disseram um caminho exangue
sobre as ondulações do tempo
para que seja possível regressar
à pureza dos dias intermináveis
em aliança com o infinito,
ao marfim dos olhos livres
nas sebes da paisagem –
provável conhecedora dos ecos
repetitivos do tempo
na palavra do poeta.