vieiracalado-poesia.blogspot.com

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sábado, 21 de março de 2015

O QUE MAIS QUERO



Posso fazer o que mais quero.
Mas não faço.
.
Porque depois
ficava sem mais nada para sonhar.


segunda-feira, 2 de março de 2015

A palavra exacta


Para louvar as palavras,
inventar a palavra exacta é um acto de amor

o assento singular da sua pronúncia
a serena veneração de fantasias ideais
apreendidas ao longo das memórias.

O seu halo respira a harmonia dos ares
pelos sentidos duma bonina suave
levada ao caminho para o tranquilidade
suspensa no espelho indolente dum lago.

E é idêntica a vibração das cordas do peito
estendendo-se aos limites da plenitude
o saber deste exercício rigoroso da existência
no discurso plural da palavra amar. 

em Os Dias e as Noites, 2014

domingo, 22 de fevereiro de 2015

A PASSAGEM DAS HORAS



A passagem das horas
o perpassar dos dias
o lento fervilhar do tempo em seus artifícios
de claridade e sombras

trazem-nos a este lugar preciso
de quietude
em ondulações do silêncio e apaziguamento.

É aqui
onde deveremos aprender
os festejos da luz
a sombra do pecado original
dos fascínios
pelo regresso urgente
a nossa casa.

em "OS DIAS E AS NOITES", ed, Litoral 2014  

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

INSIGNIFICÂNCIAS


A minha vida faz-se de pequenas coisas
que não ficarão para a história do planeta,
nem do país,
nem da cidade,

pequenas coisas insignificantes que são apenas minhas
pequenas insignificâncias
pequenas coisas de nada
que não mudam o sentido de todas as outras grandes coisas
nem a sua universal pluralidade

a sua verdadeira dimensão de idênticas pequenas coisas

embora essas possam ficar para a história do mundo,
ou do país
ou das cidades
feitas dessas pequenas/grandes coisas
exactamente iguais às minhas.

em “As Noites e os Dias

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

POEMA DRAMÁTICO


Fechado durante séculos,
o livro guardava o mistério das altas torres,
a água subterrânea das fontes.
Um nómada inquieto, 
filho das sombras,
indiscreto como uma criança,
o abriu.
Dentro, permanecia, inerte,
absorta no seu segredo, a gravura.
Quando o papel me chegou às mãos,
trazia pintado, a lápis de cor,
esse edifício imponente em seus tons verde 
e castanho,
como uma árvore.
Era a imagem comovente de antigos cadafalsos,
que arrepiava os ossos de perceber a intensidade
e o drama daquelas vidas,
hoje apenas o verdete nos beirais das casas,
uma luz oblíqua e um tecto despovoado 
aberto às chuvas e aos pássaros 
que sopram nos princípios da primavera. 
Observo este estado de alma,
esta vertigem de ver os artifícios duma flor confrangedora 
apegada à utopia,
numa sensação de frio, de imprecisos contornos,
da claridade esmorecida.
Regresso ao mundo, fora do castelo tranquilo.
A angústia mistura-se a um murmúrio,
a uma tranquilidade virtual,
a sedução pelo equilíbrio do sistema.
A gravura voltara para o interior do livro,
ao seu lugar de repouso,
fechado para outros séculos de indulgência.