vieiracalado-poesia.blogspot.com

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

ESTAS RUAS

Estas ruas são um enredo
de caminhos e de enredos.

Perpassam sobre as sombras da tarde
e tarde desvendam o esmaecer
do fulgor dos dias.

Presas ao lugar
dão lugar à indiferença
como um bocejo rigoroso.

Acendem o desencanto
e escrevem os meus versos
no verso duma folha morta.



sábado, 19 de dezembro de 2015

Uma casa constrói-se ao lado dum caminho


Uma casa constrói-se ao lado dum caminho,
a respiração contida, a luz adequada à festa
duma porta entreaberta, grave, mas vigilante,
na virginal sedução por aromas encobertos.

Para sustentá-la em seus símbolos de fogo
e seus muros de imponderável leveza,
iludem-se os barros no plasma dos sonhos,
o tecto lavra-se para as duradoiras chuvas
em cerimónia primitiva ritual de origens.

Servem-se as ervas em remotas narrativas
de saberes esquecidos, vividos nas cinzas
do tempo breve que preencheu a claridade.

E para a necessária tolerância das ruínas
a incansável circulação dos magmas, o frio,
ignoram-se os desvios dum coração audaz

porque a casa é o lugar exacto dos ruídos
a respiração das águas que caiem devagar
desconhecendo o pó, os átomos do delírio.

 em "CAUSAS DE HABITUAÇÃO", a publicar

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

NU TEMPO

X

"A nossa consciência é o próprio tempo!" 
Henry Bergson


Somos, pois,
apenas personagens do exercício de passar
pelo espaço, que julgamos ser o nosso tempo,
um poema – talvez um poema… –,
ou um simples texto ausente de sintaxe ou nexo,
escritos nos interstícios do vento!

Porque eles coabitam nos átomos do ar,
como nós em outrem coabitámos
desde antes de sermos nós,
sem conhecer as fronteiras do contínuo futuro
no seu espaço/tempo, sem era e cem limites
que num abraço longínquo escoa os seus limites,
numa ampulheta vertical sobre a cabeça.

Porém, és tu que dá corpo e dependência
à tua sede de utopias e delírios,
como numa emoção estética 
somos nós quem dá vida a um quadro intemporal ‒
o prémio de entender a passagem ímpar dos corpos
pelo abstrato fruto da inquietação.


  (…)

 Pág 67 do poema "Nu Tempo", a publicar.

sábado, 28 de novembro de 2015

Façamos hoje o mesmo gesto

'
Façamos hoje o mesmo gesto delicado
dos nossos avós

em memória dos princípios que regem
o propósito antigo
de plantar uma árvore onde havia outra árvore
no chão que persiste

o projecto lhano do destino
de ir substituindo gerações por outras gerações
sobre a terra.

Façamos esse mesmo gesto delicado
em memória dos nossos avós
e do seu propósito antigo de reger-se
por processos que persistiram desde os antigos

que plantavam árvores para a ventura
de ver a terra coberta de flores e seus frutos
para seus filhos

filhos de seus gestos antigos dedicados
de ir plantando árvores
sobre a terra.